2ª temporada

crítica

BOM DIA, VERÔNICA

Lançada em outubro de 2020 pela Netflix, a série “Bom Dia, Verônica” é uma série baseada no livro homônimo de Ilana Casoy e Raphael Montes.

A série e o livro tratavam a violência contra as mulheres escancarando a realidade para os espectadores. Quase 2 anos depois, a 2ª temporada foi lançada no início deste mês,
com os mesmos roteiristas.

Encontramos Verônica (Tainá Muller) alguns meses depois,  vivendo com outro nome, e empenhada em desmantelar a organização criminosa que dominou o alto escalão da polícia
e voltar para sua família.

Inicialmente, a série coloca o espectador no mundo da protagonista entre uma temporada e outra, mas não demora para o caminho dela se cruzar ao de Mathias (Reynaldo Gianecchini).

Bonito, charmoso e manipulador, Mathias é um missionário que oferece “a cura” a jovens bonitas de sua igreja. No estilo de João de Deus, ele usa a fé e o desespero das pessoas para interesse próprio.

O missionário tem uma família aparentemente perfeita com a esposa Gisele e a filha Ângela, interpretadas por Camila Márdila e Klara Castanho, mas coisas acontecem na mansão que ele leva mulheres para serem curadas.

Caberá a Verônica, é óbvio, desvendar o mistério por trás do missionário e mergulhar ainda mais nas entranhas da organização, mas sua família e seus amigos também estarão em risco.

Com 6 episódios na 2ª temporada (a primeira teve 8), a série perde força narrativa e se atropela com frequência. Tudo é bem simples e repentino, tirando o impacto das viradas e de algumas revelações.

A diminuição de episódios também atrapalha o ritmo da série, com sequências importantes que parecem trucidadas pela edição - assim, algumas perdem o sentido e outras parecem completamente deslocadas.

Quando se concentra na protagonista, a série se torna muito ruim e tem passagens constrangedoras: Verônica entra e sai de qualquer lugar sem ser vista e sem demonstrar preocupação com a possibilidade.

O texto é preguiçoso ao buscar soluções para movimentar a série, ignorando o bom senso, e acaba se sustentando sobre essas muletas que subestimam a inteligência do espectador.

A série fica mais interessante quando investe no núcleo de Mathias. Sua filha,  ngela, é uma menina criada em uma bolha, sem nenhuma noção do mundo. Aos poucos, ela percebe haver algo errado com os pais.

Gisele, porém, é a personagem mais complexa dessa temporada e a que possui o melhor arco. Uma mulher sofrida, incomodada com as atitudes do marido mas que, ao mesmo tempo, faz parte de tudo aquilo.

PROXIMIDADE COM
FICÇÃO

“Bom Dia, Verônica” continua com o discurso forte e relevante, mas parece levar sua trama para a ficção, se distanciando da proximidade do real que tornava o livro e o texto da série tão poderosos.

Ainda assim, há boas discussões sobre relações abusivas por figuras de poder, abuso sexual, a manipulação pela fé e o gaslighting.

3ª TEMPORADA?

A 2ª temporada de “Bom Dia, Verônica” já se conecta a uma possível terceira parte, mas passa longe da qualidade da primeira, com a qual tenta desesperadamente e de maneira equivocada se conectar.

Não há construção de tensão e expectativa, e não há thriller que sobreviva sem isso, independente da força de sua mensagem.

Leia a crítica na íntegra

Texto: Rafael Braz
Roteiro e Design: Artur Quintella

Imagens: Reprodução e Divulgação/ Netflix, Reprodução/Instagram e Freepik
Vídeos: Tenor

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